29.5.06

Desapego glandular

tudo aquilo que foi há anos reprimido
escorrendo em minhas vísceras
dilacerando minha placenta
um tumor tomando forma

meus pais mortos
minha infância órfã
minha infância de meretriz

o meu corpo nasceu podre
meu sexo mutilado
prostituía minha alma
prostituía a minha literatura

a poesia inerente
a massificação do que é inerte
a cauterização do meu púbis

empossai tudo aquilo
que é mais íntimo em cada coisa

(eu sou o próprio tumor)

eu desprezo o surrealismo.

22.5.06

Pretérito comestível

num momento de fraqueza,
relembro na minha infância
um útero sonhador
uma alma esperando para ser fecundada
uma doce menina folheando páginas
e sendo dizimada pelo porvir das horas

vejam, os garotos a que amei
estão todos mortos e decapitados
enterrados em uma cova violada por crianças podres

oh, eram crianças
doces crianças
brincando com os cadáveres a que decapitamos
os ossos apodrecidos dos teus sentimentos
em uma vala epidêmica de um cântico ateu

nesta biblioteca de hienas que habito
restaram os meus livros seminais
restou o tabu de uma castidade
enraizada nesta dura-máter

(para os tolos que me lêem)
nunca fui menina
nunca fui mulher
meu sexo é inócuo

7.5.06

"Just a perfect day,
You made me forget myself.
I thought I was someone else,
Someone good.
Oh it’s such a perfect day,
I’m glad I spent it with you."



(quanta hipocrisia, seus tolos!)

Estripando-se

seres subversivos
separados do ventre
entrepostos ao tortuoso destino
a que não pertencemos

a tua perda
como alegoria aos meus seios disformes
tua presença
indiferente ao aleijado que vive em nossas utopias
a tua inocência
nas entranhas da poesia
em uma comitiva de fugacidade masturbatória

meu sexo, meu sexo, meu sexo, meu sexo, teu sexo!
(a volúpia da tua perversão escorrendo em meus sentidos)

devaneios, súplicas, consanguíneos!
estupro intelectual!

não existe romance
não existe cumplicidade
amor, (você) nunca existiu.

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