8.10.06

Entre o fulgor atômico e o escárnio da plebe

em vinte-e-dois meses
o peso de cinco dias estruturados
entre os sumários
e as síndromes de privação maternal

se a medula espinhal não é acariciada
a criança se atrofia
o caso ilustrativo e o subterfúgio
das três semanas
para o extremo do retardamento mental e físico

a priori
uma mãe substituta voluntária e
sem habilidade motora
ao não saber balbuciar
a líquida semente
não-interna
e sem-pele

não-ser tocada e reconhecida
fizera da minha carência
a ânsia primitiva e primária
dos dejetos de cônjuges não-currados

a degeneração do sistema nervoso
o ornador defecando-se
a pazada do migratório

ainda que tocaste
o incesto o ato flébil
a privação irracional a nona serpente
a brisa disforme o púbis flauteado
motivos não foram suficientes
a tal mutilação condenada e não-nutrida

acolhe-se a substância imaterial e a medula sem carícia
estruturo o tempo o corredor sitiado e o hospital infantil

- a criança sem boca, ainda habito

"Se te queres matar, por que não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por atores de convenções e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fím?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!
Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar... "

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