22.5.06

Pretérito comestível

num momento de fraqueza,
relembro na minha infância
um útero sonhador
uma alma esperando para ser fecundada
uma doce menina folheando páginas
e sendo dizimada pelo porvir das horas

vejam, os garotos a que amei
estão todos mortos e decapitados
enterrados em uma cova violada por crianças podres

oh, eram crianças
doces crianças
brincando com os cadáveres a que decapitamos
os ossos apodrecidos dos teus sentimentos
em uma vala epidêmica de um cântico ateu

nesta biblioteca de hienas que habito
restaram os meus livros seminais
restou o tabu de uma castidade
enraizada nesta dura-máter

(para os tolos que me lêem)
nunca fui menina
nunca fui mulher
meu sexo é inócuo

Comments:
Você tem belíssimos poemas, você os escreve?
 
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